Alguém lembra da avó pegando peso na academia ou saltando caixas? O estilo de vida das mulheres há alguns anos atrás era bem diferente. E exercícios físicos como CrossTraining, Ginástica, Vôlei e Basquete, não eram muito difundidos pelo público feminino. Já param pra pensar nisso? Os exercícios de alto impacto exercem no nosso abdômen um aumento de pressão (PIA - Pressão intra abdominal) que reflete diretamente no nosso assoalho pélvico, principalmente feminino, deixando-o mais sobrecarregado e consequentemente menos funcional. Somando a fadiga neuromuscular causada durante o exercício, e a sobrecarga nos músculos do assoalho pélvico, isso pode comprometer as funções de continência urinária e em casos mais graves até causando a descida dos órgãos pelo orifício vaginal (que chamamos de Prolapso).
Fatores como idade elevada, sexo feminino, sendentarismo, IMC elevado, quantidade de gestações e frequência de treino semanal influenciam diretamente na chance desses problemas acontecerem.
Foi publicada março de 2022 uma revisão sistemática com metanálise, onde 4.823 pessoas (3.682 praticantes) de 18 a 71 anos foram analisadas em 13 estudos transversais, 6 desses realizados no Brasil. Foi encontrado que os praticantes de Crossfit são mais propensas a apresentarem incontinência urinária do que o público em geral, e as que apresentaram essa queixa, tinham mais idade, IMC elevado, e maior paridade (tinham mais filhos).
E ainda 7 desses 13 estudos, revelaram que o ato de pular caixas (Box Jump) e corda (simples e dupla - SU e DU), aumentam a probabilidade de perda de urina.
Então o CrossFit aumenta o risco de desenvolver incontinência urinária? Parece (muito!) que sim. Mas ainda não podemos tirar conclusões sólidas, e nem dizer que o esporte não deva ser recomendado com base no aumento do risco de IU.
(DOI 10.1007/00192-022-05244-z)
O Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico que é orientado pelo fisioterapeuta em consultório (e DIFERENTE do que se propõe nas técnicas de pompoarismo, yoga, pilates, ginástica hipopressiva) é o único tipo de exercício recomendado como tratamento conservador de primeira linha para mulheres com incontinência urinária de esforço, urgência ou mista. Recomendação da International Continence Society (ICS) 2016 e foi confirmada na última revisão sistemática Cochrane 2019. (DOI 10.1016/j.bipt.2019.01.002)
Então devemos deixar o treino de lado? De forma nenhuma! Vale passar por uma avaliação com um fisioterapeuta pélvico e verificar o que pode ser feito para minimizar esses danos, fazer com que esses músculos, nervos, fáscias e ligamentos, sejam preparados para receber essa carga, e tratar caso haja qualquer gotinha de xixi saindo durante os treinos!
Perder xixi tossindo, espirrando, pulando corda, caixa, é comum, mas não é normal!
Procure orientação, deixe seu assoalho pélvico bem tratado e jogue duro nos treinos!
Amanda Sampaio Nicholls
• Fisioterapeuta graduada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
• Especialista em Saúde da Mulher pelo COFITTO
• Pós graduada em fisioterapia Pélvica e Obstétrica
• Proprietária da clínica Vie Santé Fisioterapia
• Instrutora de Pilates para gestantes
• Atleta de CrossFit há 10 anos (na “minha Aldeia” e mãe de Gabriel e Rafael
Conteúdo importantíssimo para nós mulheres porque precisamos conhecer nossos corpos, forças e limitações e essa matéria está muito bem fundamentada cientificamente, além de propor as soluções, o enfrentamento de possíveis problemas, sem deixar de ser atleta. Parabéns, Amanda e Aldeia!! A gente percebe em cada tema abordado e nas atividades realizadas pela Aldeia, o cuidado integral com todos os alunos e colaboradores!!! 😍